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Reduzir acidentes e fatalidades no tráfego é o maior objetivo de ações para diminuir a velocidade dos carros, elevar a atenção dos motoristas e a visibilidade dos pedestres e ciclistas. Do estreitamento de vias à ampliação de calçadas, instalação de lombadas e de arte no pavimento, saiba que iniciativas podem ser efetuadas a partir das necessidades de cada lugar.

A priorização dos veículos no desenho da maioria dos municípios impacta não só o meio ambiente com a maior emissão de gases de efeito estufa, mas também o bem-estar e a saúde das pessoas e a qualidade dos locais públicos. A circulação dos automóveis em alta velocidade é apontada por especialistas como a principal causa de mortes em ruas e estradas no mundo. Em 2023, 1,19 milhão de indivíduos perderam a vida no trânsito, conforme Relatório Global Sobre Segurança Rodoviária da Organização Mundial da Saúde (OMS), tornando-se o maior motivo de óbito de crianças e jovens de 5 a 29 anos.

Reverter esse cenário e promover mudanças nas cidades e no comportamento de condutores, pedestres e ciclistas é o foco da Década de Ação pela Segurança no Trânsito. Lançada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2021, a meta é reduzir em 50% as lesões e fatalidades no tráfego até 2030. Para isso, diversas medidas podem ser postas em prática através de alterações na configuração das vias e da introdução de elementos nos espaços urbanos, assim como pela realização de atividades educacionais. Acalmar o trânsito é uma das iniciativas que vem sendo implementada por municípios de vários países e tem apresentando bons resultados na queda do número de acidentes e mortes.

O conceito de traffic calming (acalmar o trânsito, em tradução livre), segundo artigo do Project for Public Spaces (PPS), foi elaborado na Europa e consiste em um conjunto de estratégias de design e gestão que busca equilibrar o tráfego nas ruas com outros usos, como caminhar, pedalar, permitir que as pessoas façam compras, se divirtam e se encontrem no ambiente coletivo. Ainda de acordo com a publicação, essa abordagem não trata as vias somente como um canal para o deslocamento dos carros na maior velocidade possível, ela propõe a criação de lugares melhores para todos. Outro benefício ressaltado de acalmar o trânsito é a sua aplicação econômica (muitas das modificações demandam pouco investimento) e flexível (medidas adaptáveis à realidade de cada local, como pintar o asfalto ou colocar floreiras).

O estreitamento das ruas é uma das múltiplas ações recomendadas pela organização Global Designing Cities para diminuir a velocidade dos veículos e elevar a atenção dos motoristas sobre o entorno e os demais usuários da região. A área destinada anteriormente aos automóveis pode receber mobiliário urbano, vegetação ou uma ciclovia, deixando o espaço mais vibrante. Componentes verticais, como árvores e postes de iluminação, ajudam a reduzir ainda mais a “largura óptica” de uma via, acrescenta o PPS, desencorajando o excesso de velocidade.

Conheça outras iniciativas para acalmar o trânsito indicadas pelo Project for Public Spaces, pela Global Designing Cities e pelo instituto de pesquisas WRI Brasil, que podem ser instaladas isoladamente ou combinadas. Algumas ferramentas, por exemplo, são mais eficazes quando associadas a outros meios de locomoção, como bicicletas, ônibus ou veículos leves sobre trilhos (VLT). A escolha das melhores opções para as ruas depende das características do lugar e dos objetivos esperados.

Minimizar raio de curva

Diminuir o tamanho do raio da curva também contribui para que os carros baixem a velocidade de conversão, oferecendo cruzamentos mais seguros e compactos. Outro reflexo disso é a redução da distância da travessia dos pedestres, já que aquele trecho é ampliado para a utilização dos indivíduos.

Vias de mão dupla

Transformar ruas de mão única em dupla, incluindo um canteiro central entre elas, aprimora o acesso ao trânsito, diminui velocidades, elimina a necessidade de fazer curvas extras para chegar a destinos próximos, mitigando as possibilidades de acidentes, e aumenta o movimento nos negócios presentes ao longo da via.

Pontos de estrangulamento

Extensão das calçadas ou das áreas de refúgio dos pedestres efetuadas no meio das quadras. Pode ser implementada por meio da pintura do pavimento, delimitando a região onde o automóvel não pode passar, ou de mobiliário urbano ou outros itens que limitem a circulação.

Chicanas

Ampliações de calçadas idealizadas para formar uma rota sinuosa para os veículos, incentivando os motoristas a dirigirem mais devagar e com atenção. Esse caminho ondulado pode ser concebido através da disposição de vegetação, mobiliário e até estacionamentos diagonais, qualificando o ambiente urbano e a função da rua. Esse recurso costuma ser mais empregado em vias estreitas.

Ilhas de refúgio

Canteiros centrais elevados e ilhas de refúgio para pedestres podem ser usados para diminuir a largura da faixa para os carros, mesmo em ruas relativamente estreitas. Também podem ser utilizados para organizar o trânsito em cruzamentos ou bloquear o acesso em lugares estratégicos.

Rotatórias ou minirrotatórias

São ilhas circulares instaladas em cruzamentos que auxiliam na redução das velocidades e na organização do tráfego. Em seu centro podem ser incluídos elementos como jardins, hortas, fontes ou esculturas, sendo mais um fator para melhorar os bairros e trazer mais vida às vias.

Lombadas

As elevações feitas em trechos das ruas, que geralmente tem de 10 a 15 centímetros de altura e de quatro a seis metros de comprimento, obrigam os condutores a diminuírem a velocidade. Para otimizar esse efeito, elas devem ser postas em intervalos frequentes, além de precisarem ser bem sinalizadas, seja por meio de placas ou de pintura das estruturas.

Almofadas de velocidade

São semelhantes às lombadas, porém não ocupam toda a dimensão da via. Elas possuem aberturas na altura das rodas para possibilitar que veículos grandes, como ônibus e caminhões, consigam passar, ao mesmo tempo que reduzem a velocidade para os automóveis.

Tabelas de velocidade

Também similares às lombadas, esses redutores de velocidade têm uma parte superior plana, normalmente de seis a nove metros de comprimento. Quando são combinados a travessias de pedestres, em cruzamentos ou no meio das quadras, são chamados de travessias elevadas.

Estacionamento diagonal

Além de ser simples e barata, a medida muda a percepção e a função da rua, diminui a velocidade e aumenta o cuidado dos condutores com os carros que estão entrando e saindo das vagas. Outro ponto salientado pelo Project for Public Space é que dessa maneira é possível adicionar até 40% mais espaço de estacionamento do que a sua versão em paralelo ao meio-fio.

Pavimentação

Alterações na cor e na textura dos pavimentos, acrescentando interesse visual nas vias, incrementa a atenção dos motoristas e colabora na identificação de áreas de travessia de pedestres ou de cruzamentos. A pintura do asfalto também faz a rua parecer mais estreita do que ela é, levando os condutores a dirigirem mais devagar.

Progressão dos semáforos

Programar as sinaleiras das vias para velocidades mais adequadas aos pedestres, ciclistas e transporte público pode estimular os condutores a trafegarem com mais calma, deixando o trajeto mais seguro ao longo de um corredor.

Ruas compartilhadas

Ao eliminar os meios-fios e outros obstáculos entre quem caminha, pedala e dirige, definindo um único ambiente de circulação, todos os usuários da via precisam estar mais conscientes sobre o uso das regiões em comum, respeitando o espaço de cada um, o que resulta ainda na redução da velocidade por parte dos motoristas e maior cuidado de pedestres e ciclistas.

Desviadores

Essas barreiras físicas redirecionam o trânsito que vai de uma determinada rua para um curso distinto, diminuindo a sobrecarga de veículos em vias vulneráveis (geralmente residenciais) invadidas pelo tráfego em busca de atalhos. Os desvios diagonais atravessam um cruzamento inteiro, criando duas ruas desconectadas, que fazem uma curva acentuada para longe uma da outra. Ajudam a reduzir ou restringir o acesso a um lugar. Apesar de suas vantagens, os desviadores devem fazer parte de um sistema mais abrangente de qualificação das vias, pois, caso contrário, podem acabar apenas deslocando o congestionamento.

Arte incrementa segurança nos ambientes públicos

Uma iniciativa da Bloomberg Philanthropies vem auxiliando municípios em todo o planeta a tornar as ruas mais acolhedoras e protegidas para os pedestres através de intervenções artísticas em vias, cruzamentos, praças e outras infraestruturas de transporte, destaca artigo do Fórum Mundial de Cultura das Cidades, uma rede de mais de 40 localidades que vêm colocando a cultura no centro do planejamento e investimento urbano. O programa de Arte no Asfalto financia atividades que transformam as áreas por meio de pintura nas ruas e contribuem na diminuição de lesões e fatalidades no trânsito e na conexão das pessoas com os espaços urbanos.

As intervenções nas vias, reforça a publicação, funcionam como um lembrete visual aos condutores de que essas regiões são centradas nos pedestres. O Estudo de Segurança da Arte no Asfalto de 2022 mostrou uma queda de 50% nos acidentes de tráfego envolvendo pedestres e ciclistas após a introdução de arte em ruas que apresentavam piores resultados nesse quesito. Outro ponto assinalado pela organização é que esses projetos, que são temporários e de baixo custo, podem gerar benefícios sociais como a maior coesão comunitária ou impactar na qualidade do ar.

No começo de 2025, uma chamada para o financiamento de novas ações foi realizada no México, Canadá e Estados Unidos e previa recursos de até 100 mil dólares para iniciativas artísticas que aumentassem a segurança nas vias, ativassem ambientes públicos e engajassem moradores. O bairro de North Lawndale, em Chicago (Illinois, EUA), é um dos exemplos de lugares atendidos pela Bloomberg Philanthropies. Com um histórico de desinvestimento, a área possuía uma série de obstáculos para a acessibilidade a pé, principalmente em um cruzamento na entrada da comunidade.

Por meio da ação “WA|KH: Gateway to North Lawndale ” foi identificado junto aos habitantes do bairro que nesse espaço havia altos índices de excesso de velocidade, acidentes, pouca iluminação e falta de atrativos. A partir disso, em 2022, a Escola de Arte do Instituto de Chicago, em conjunto com oito alunos do ensino médio local e o artista e professor da instituição Ash Bussey, foi preenchendo as lacunas existentes e construindo conexões por meio da arte. Além de pinturas na extensão da calçada e do meio-fio com temas da natureza, uma faixa de estacionamento foi convertida no início de uma ciclovia e a calçada foi aperfeiçoada.

Já em Bruxelas (Bélgica), a praça Yser, uma região bastante engarrafada da cidade, se tornou um ambiente para pedestres em 2023, com o foco em reduzir as lesões e mortes no trânsito e as emissões de gases de efeito estufa veiculares. A ativação da área ocorreu com a instalação de mural, encomendado pela prefeitura, idealizado pelo coletivo artístico Patrimoine à roulettes (Patrimônio sobre rodas, em tradução livre) em conjunto com o Foyer du Selah, do Exército da Salvação e com residentes da comunidade.

Os pensamentos e sonhos expressos pelos participantes da oficina que resultou na intervenção artística foram convertidos em código Morse e pintados no asfalto. Com a medida, até 700 automóveis a menos circulam pelo cruzamento durante os horários de pico e houve uma diminuição de 22% na geração de dióxido de nitrogênio. Além disso, o lugar se transformou em um espaço mais seguro e utilizado para a interação social.

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